Quando o time preferiu jogar com oito jogadores.


Contam as boas línguas da Vila Esperança, vário casos, ou seriam causos, ou lendas, talvez mitos... Essa é mais uma daquelas histórias que alguns chegam a duvidar, no entanto quem estava lá e tantos outros, sabem que no que é contado, só cabem verdades. Claro que as vezes quem conta tem uma verdadezinha  a acrescentar. Mas asseguro que essa versão que contarei é pura verdade.

Em certo ano, do qual não me recordo no momento, a Vila Esperança foi convidada a mandar dois times ao campeonato de municipal Dores de Guanhães. O time principal, a cargo do lendário e saudoso José Faria e o segundo time sob a tutela do Geraldo da Edith, também chamado no meio boleiro de Gambá. A bem da verdade, seria o time da Cabeceira da Vila Esperança, que já a essa altura, sofria com escassez de atletas, já vivendo o declínio técnico de certos craques como os irmãos Perrela e Zé Paulo. Assim o que se viu foi um time composto basicamente de jogadores da Vila mesmo, que não estavam no time principal.

Esse time tinha grandes nomes como Calango(craque), Ricardo, Astrogildo que atuou na linha e depois teve que ir pro gol... enfim, foi um time que talvez merecesse melhor sorte, mas que após apenas quatro jogos saiu do campeonato com apenas um empate (2a2 diante dos veteranos de dores) e três derrotas. Dessas, a que talvez tenha chamado mais atenção e por isso é tema desse escrito foi exatamente no ultimo jogo desse esquadrão.

Como a memória é seletiva, sequer o nome do adversário será aqui lembrado.

Ocorre que ao formar esse time, não se esperava, nem mesmo o mais otimista, que se chegasse ao menos ao mata mata, no entanto, o que aconteceu foi um abandono do campeonato antes mesmo que se cumprisse a tabela. Muito disso se deve ao ocorrido  no fatídico jogo.

Pois bem, como já dito,o time não era lá essas coisas. Formado por atletas que ficaram de fora do selecionado principal da Vila, entre outros. Isso parecia não importar muito para os atletas que realmente queriam jogar. Entre esses nomes antológicos, havia um jovem que sempre que o ônibus parava para o embarque dos atletas aparecia com uma pinta de craque.  Bolsa a tira colo com equipamento, na maioria das vezes sem camisa, "Raider" no pé e um andar malandro largado, braços abertos, certa curvatura nas costas e pernas talvez forçadamente "cambotas". Toda banca de um cara que já tinha saído do lugar, vivido na periferia de BH e retornado com toda experiência de uma realidade dura enfrentada. Assim entra o personagem central de nossa história: Zezinho Doloroso.

Ex que o pomposo atleta estava radiante por fazer parte de um elenco desses, em um campeonato de tamanha importância na região. Passaram os três primeiros jogos e o mais próximo de um craque que ele mostrava ser era antes dos embarques na Vila para jogar em Dores. Enquanto Astrogildo jogou os primeiros jogos no meio em grande fase acabou indo pro gol por falta de elenco. Enquanto Calango destruía jogando em todas as posições...Zezinho sequer aparecia.

Mas suas atuações de coadjuvante  teve fim no ultimo jogo. O time já estava sofrendo com falta de atletas, chegou atrasado para o jogo que aconteceria a tardinha, entrando pela noite. Alguns atletas não foram de ônibus e chegaram depois. A verdade é que na hora do jogo haviam apenas 8 atletas no campo. Conforme manda o regulamento, com 7 jogadores é possível iniciar a partida e assim foi feito.

O jogo rola e como era de se esperar, o time da Vila/Cabeceira começa a tomar um chocolate, ficando na roda. Se não falha a memória Zezinho Doloroso estava na lateral que se transformou em uma avenida. Por mal dos pecados a posição que fica mais perto do técnico. Com o passar do tempo e dos lances o Geraldo se desesperava, clamava, gritava e esperneava, pedia pelo amor de Deus, mas nada adiantava. O alvo maior da ira de Geraldo Gambá era o Zezinho.

Quando o jogo não estava sequer no segundo tempo, aparece um dos atletas do time que não foram no ônibus. O que se seguiu foi tão mais emblemático que sequer é possível agora recordar quem era esse atleta, porém ele logo vestiu o uniforme e em poucos minutos após a chegada já estava pronto para entrar em campo.

O famoso Geraldo Gambá então solicitou o árbitro, atendido poderia colocar em campo seu atleta. Nesse momento, o técnico chama na beira do campo o exausto Zezinho Doloroso. Entra o atleta novo e sai o alvo da fúria geraldina.

Uma grande interrogação surge entre os presentes: por que faltando faltando três atletas o treinador fez uma substituição?

Essa dúvida persiste até os dias atuais. Segundo o dito no dia pelo treinador, ele preferia jogar com sete jogadores do que deixar o Zezinho em campo!

Assim se encerrou um campeonato, um time e um mito!